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“EUA fizeram vista grossa diante do crescimento do Estado Islâmico”, afirma pesquisador

Por: Brasil de Fato

Cientista político descreve origens do Estado Islâmico, comenta os interesses em disputa por potências mundiais na Síria e fala sobre os riscos do crescimento da islamofobia.

Por Vivian Virissimo,

Do Rio de Janeiro (RJ)

obama_esta_is_118Após os ataques do Estado Islâmico em diferentes pontos de Paris, que resultaram em mais de 150 mortes e 300 feridos, o sentimento de solidariedade ao povo francês tomaram o noticiário, as conversas e as redes sociais em todas as partes do mundo. Para entender as razões do atentado e o que está sendo disputado por potências mundiais na Síria, o Brasil de Fato entrevistou o cientista político Pedro Paulo Bocca.

Brasil de Fato – Quais as razões do ataque feito pelo Estado Islâmico ocorrido em território francês na última sexta-feira. Quais são as raízes desse conflito?

Pedro Paulo Bocca – É importante entender o processo de criação do Estado Islâmico. Ele se origina no Iraque após a invasão dos Estados Unidos. Após a queda de Saddam Hussein, começa a crescer uma disputa religiosa interna entre sunitas e xiitas, já que o governo provisório eleito com o apoio dos EUA é xiita e passa a reprimir a maioria sunita. É neste contexto que nasce o Estado Islâmico, sunita, em 2004. Os Estados Unidos fizeram vista grossa diante do crescimento do Estado Islâmico, já que isso dividia o povo iraquiano e facilitava a dominação estadunidense. É bom lembrar que o Estado Islâmico foi constituído também por uma dissidência da Al Qaeda, que eram os ditos inimigos dos EUA na época. Hoje, mais da metade do Iraque é dominado pelo grupo. Com o início da guerra civil na Síria, o Estado Islâmico viu a oportunidade de expansão de fronteira e a tomada do território sírio para consolidar seu objetivo de criar um Estado em toda a região. No início do processo, as potências ocidentais acharam esse movimento conveniente, pois eram contra o governo sírio, mas isso fugiu do controle.

O que as potências têm feito atualmente diante desse cenário?

Há dois blocos atuando hoje contra o Estado Islâmico. Um, de defesa do governo da Síria, de Bashar Al-Assad, que reúne Rússia, Irã e Líbano e que atua por terra com o objetivo de expulsar o Estado Islâmico da Síria. Por outro lado, há ações coordenados por Estados Unidos e outros membros da Otan – incluindo a França – de bombardeios aéreos. Esta coalizão, durante a guerra civil na Síria, se posicionava ao lado dos rebeldes sírios, com a proposta de derrubada de Assad.

O que teria sido o estopim para o ataque da última sexta-feira?

A França tem apresentado muita resistência ao crescimento do extremismo islâmico, especialmente após o ataque ao jornal Charlie Hebdo, no começo deste ano. Além disso, o país é identificado pelo Estado Islâmico como o principal oponente europeu porque os bombardeios ao seu território, pela coalisão da Otan, são realizados majoritariamente a partir de caças franceses. Na semana passada, a França explodiu um campo de extração de petróleo no território controlado pelo Estado Islâmico. Atualmente, o grupo extremista está numa dinâmica de criar um cenário de instabilidade e tensão como resposta aos países que o tem atacado: foram os responsáveis pela explosão de um avião russo em território egípcio que resultou em mais de 200 mortes, realizaram um atentado em Beirute, no Líbano, que deixou mais de 40 mortos, e agora os atentados em território francês.

Qual o impacto na geopolítica mundial?

A Síria é o grande nó na geopolítica mundial. Mesmo que EUA e Rússia se unam para combater o Estado Islâmico e o destruam, fica a pergunta: O que fazer com esse território depois? A Rússia não abrirá mão da manutenção do governo de Bashar Al-Assad, enquanto o plano dos Estados Unidos e das demais potências ocidentais é exatamente o contrário. A Síria cumpre um papel geopolítico e econômico fundamental para os interesses russos, e Vladimir Putin não abrirá mão de Assad. Esse pós-Estado Islâmico, caso haja de fato uma reação maior, é a grande questão. Depois dos acontecimentos sexta-feira não há nada certo.

Como o Estado Islâmico poderia ser caracterizado?

Ele é talvez a grande expressão do extremismo muçulmano que tem sido historicamente construído naquela região, fomentado pelas grandes potências ocidentais. Hamas, Al Qaeda e Boko Haran são exemplos desses movimentos islâmicos muitos radicais, os chamados jihadistas que praticam a “guerra santa”. Eles objetivam a expansão do Islã e constituição de regimes de governo islâmicos através do uso da força. É importante, porém, deixar claro que estes grupos não representam de maneira nenhuma a imensa maioria dos árabes ou dos muçulmanos, que muitas vezes acabam sendo confundidos com os extremistas. De qualquer modo, nenhum desses outros movimentos citados teve algo semelhantes às condições que o Estado Islâmico possui, ele é a expressão mais radical e mais estruturada deste processo. Sua força se dá pois conseguiram se aproveitar do momento histórico. No começo dos anos 2000 o Oriente Médio estava relativamente sob controle, com Estados fortes controlados por governos que tinham legitimidade: Saddam Hussein no Iraque, Muammar Kadafi na Líbia e Bashar Al-Assad na Síria, eram um exemplo disso. Porém, a intervenção dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque cria novamente uma instabilidade política na região, que é propícia para o desenvolvimento de organizações extremistas. Como alguns Estados foram destroçados pela intervenção estrangeira, inicialmente no início da década, e mais recentemente com a derrubada de Kadafi pela Otan e a guerra civil na Síria, aumenta ainda mais a possiblidade de se organizarem com planos maiores. Hoje o Estado Islâmico tem grandes proporções, tem influência em outros países, recruta membros inclusive em outras regiões do mundo. Isso garante uma condição de articulação e um poder muito maior. É uma organização que tem grande capacidade financeira graças ao controle de áreas que produzem petróleo e gás, distribuídos pelas monarquias árabes como a Arábia Saudita, que possui fortes relações políticas tanto com o Estado Islâmico, quanto com os Estados Unidos.

Após os ataques na França, vários países estão anunciando que vão endurecer as medidas contra os refugiados. Que repercussão isso terá?

Após os últimos acontecimentos, as intervenções no território sírio e no Iraque tendem a aumentar e isso ampliará o contingente de refugiados. Após os ataques em Paris poderá haver uma diversificação do local de imigração. Com as portas europeias ainda mais fechadas, a tendência é que os refugiados mudem de destino, pode ser que haja muitas pessoas se deslocando para outros países. Ainda que a visão da mídia dê a entender o contrário, a quantidade de sírios e iraquianos que ingressam na Europa Ocidental é pequena se comparado ao número total de cerca 11 milhões de refugiados que tiveram que sair das suas terras graças a este conflito. A Turquia, por exemplo, recebeu sozinha mais refugiados do que toda a Europa.

Que impacto terá para os refugiados que já moram em território europeu?

A França, por exemplo, já enfrentava problemas com a população islâmica no interior do país, que soma entre 8 e 9% da sua população. Mas após estes atentados, a situação dos muçulmanos franceses e os espalhados pelos demais países pode ficar ainda pior. A tendência é de fechamento da política europeia, aumento da perseguição aos árabes e crescimento do nacionalismo europeu que vai cobrar da França e de outros países da Europa ações enérgicas para o conflito. Novamente, temos que reforçar que o Estado Islâmico não representa a imensa maioria dos muçulmanos, especialmente no caso dos refugiados. Pelo contrário, quem mais sofre com a ação destes grupos é a própria população árabe. Os refugiados são refugiados porque fogem justamente desses grupos, que destruíram suas cidades, seu país e sua cultura. Existem estimativas que, só em 2015, mais de 10 mil sírios e iraquianos foram assassinados nas ofensivas do Estado Islâmico na região.

A islamofobia já era um problema na Europa. Como esse sentimento de repulsa ao islamismo tende a piorar após os ataques na última sexta?

Ao contrário de outros países europeus na França os muçulmanos não foram completamente integrados à sociedade. Enquanto na Alemanha, por exemplo, isso se deu de forma menos “traumática” com os turcos ainda no século passado, na França, a integração tem sido muito difícil, são comunidades muito guetizadas, a comunidade árabe tem uma dificuldade social, política e econômica de integração com a sociedade francesa. Daí os conflitos nos últimos anos, principalmente nas periferias de Paris. Há anos existe um clima de preconceito étnico que a direita já usava com muita força. Agora, diferente dos atentados no início do ano ao Charlie Hebdo, um órgão de imprensa, agora é um ataque à França, um ataque declarado de uma força estrangeira ao Estado francês. Até mesmo no governo francês, do Partido Socialista, que podemos considerar a centro esquerda da política francesa, cresce a cobrança por uma ação enérgica. Importante ressaltar a declaração de Obama que classificou a ação do Estado Islâmico como um ataque aos valores ocidentais. É um forte contraponto a pessoas que praticam outra religião, falam outra língua e tem outros costumes.

Como fica a situação das forças de libertação que atuam na Palestina?

Há que se ter especial cuidado no que diz respeito à confusão, que na maioria das vezes é proposital, entre os exércitos de extremistas islâmicos e os movimentos de resistência nacional-popular árabes. As forças de libertação nacional que operam na Palestina e no Curdistão, por exemplo, e os governos que não pactuam o plano ocidental para a região (notadamente Líbano, com a participação do Hezbollah, Irã e, claro, Síria) tendem a estar ameaçados por uma nova ofensiva dos países da Otan na região. É importante separar as coisas. Neste sentido, é importante aumentar a atenção na Palestina. Os levantes populares que têm acontecido nos últimos meses (muitas vezes, infelizmente, também relacionados a ações terroristas) podem e serão utilizados por Israel para legitimar uma ofensiva militar de repressão nos territórios ocupados. Essa é uma questão de imensa importância

Como avalia o posicionamento do governo Dilma Rousseff diante do atentado na França?

Tímido. O Brasil tem evitado se posicionar de maneira mais contundente sobre o conflito, não é de hoje. A política externa de Dilma é mais tímida do que a que se destacou durante os dois mandatos de Lula. No plano internacional, a Rússia tem feito pressão dentro do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para que esses países que se somem na defesa do governo sírio. O Brasil tem se esquivado de tomar uma posição clara. Inclusive recentemente votou contra o governo sírio no Conselho de Direitos Humanos da ONU, numa moção sobre supostas violações direitos humanos no governo Assad. O Brasil votou diferente de Rússia e China que pediram a anulação dessa moção. O país vinha se abstendo nesse tipo de votações. Alguns analistas apontam que esse voto contrário à Síria pode ter a ver com as negociações de reaproximação conduzidas por Dilma na recente visita à Washington. Acho difícil que o governo brasileiro se posicione ao lado da coalização da Rússia ou dos Estados Unidos, caso essa bipolaridade se confirme com mais força, porque isso faria alguns dos lados descontentes com o Brasil, e este é um cenário que o governo não pode se dar ao luxo de construir neste momento.

A recepção aos refugiados sírios no Brasil tem sido satisfatória?

O Brasil tem uma contradição na questão dos refugiados sírios. O país tem sido apontado como exemplo internacional por ter feito acordo com a ONU, facilitando as questões burocráticas para a entrada de refugiados sírios no país, garantindo mais direitos e menos problemas legais, por exemplo, para a obtenção de vistos de trabalho e do Registro Nacional de Estrangeiro. Por outro lado, os sírios que chegam aqui não têm assistência nenhuma. Não há qualquer apoio para garantir a inserção no mercado de trabalho, por exemplo, mesmo para profissionais qualificados que chegam nestas condições. Além de problemas com moradia, educação, o aprendizado do português, enfim, uma série de problemas. Cerca de 2 mil sírios estão refugiados hoje no Brasil. É um contingente pequeno, se compararmos com o todo, mas ainda assim é necessário que existam políticas públicas que facilitem a inserção destes refugiados em nossa sociedade. Em São Paulo, que é a cidade que mais tem recebido os refugiados, a inserção deles tem se dado mais a partir de iniciativas da sociedade civil e de organizações internacionais como a Acnur (Agência da ONU para Refugiados) do que do próprio Estado brasileiro.

Você considera que este atentado facilita a aprovação da lei antiterrorismo no Brasil?

É muito possível. Desde os ataques isso já está sendo pautado na imprensa com ênfase por conta das Olimpíadas. O Brasil não tem nenhuma relação com o conflito armado. Porém, as Olimpíadas já foram palco de atentados no passado, e o Brasil receberá delegações, como as francesas e russas, e sabemos que o Estado Islâmico poderia tentar fazer uma ação midiática. Por isso haverá pressa para aprovação de uma lei antiterror, até para dar uma resposta. Além disso, há uma pressão internacional, independente da direita brasileira. Entre os mais importantes países do mundo, o Brasil é o único que não tem uma lei antiterror clara e o país sempre foi cobrado nesse sentido. Esse grande evento e a agenda antiterror pós-atentados na França só vai fazer com que esta pressão aumente. O problema é que, pela maneira com que esta lei está sendo construída no Brasil, são os movimentos populares que criticam ou contestam o Estado que acabarão sofrendo as consequências, caso essa lei seja aprovada. Como já foi dito que é feito em relação aos movimentos de resistência popular árabe, a direita brasileira vai aproveitar a lei para vincular os movimentos sociais ao terrorismo, aumentando ainda mais a criminalização da luta social e a repressão. Não podemos vacilar em relação a isso, e devemos lutar pelo direito legítimo de organização e de luta popular, que nada tem a ver com o terrorismo.

16 de novembro de 2015 at 11:32 pm Deixe um comentário

Movimentos vão às ruas celebrar 10 anos da derrota da Alca

Por: Brasil de fato

Atos vão acontecer em 20 cidades na América Latina. “O desafio é identificar os novos dilemas colocados para as organizações populares”, diz brasileira.

Por Bruno Pavan,

De São Paulo (SP)

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Foi no dia cinco de novembro de 2005 que a proposta da Área de Livre Comércio Entre as Américas (Alca) foi oficialmente sepultada na IV Cúpula das Américas, na cidade argentina de Mar del Plata. Lembrando a data dez anos depois, dezenas de movimentos vão voltar às ruas para a realização da Jornada Anti-Imperialista.

A intenção é analisar a vitória que os povos tiveram contra o imperialismo, mas também colocar os próximos desafios que estão postos para os movimentos populares. Paola Estrada, da Secretaria da Articulação dos Movimentos Sociais da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), alerta que, mesmo sem a Alca, os Estados Unidos conseguiram avançar em acordos bi e multilaterais com países do continente e com a Aliança do Transpacífico (TPP).

“O TPP nos deixa em alerta, porque vai pra além do acordo de comércio de mercadorias e passa para a área de serviços. Além disso, [existem] todas as movimentações desse ano e como se usam as crises econômicas e políticas no Brasil pra pautar esses acordos como saída”, criticou.

Apesar disso, Paola reforçou que desde o fracasso da Alca os governo progressistas da América do Sul apostaram no fortalecimento da integração regional tanto política quanto economicamente e minaram o poder estadunidense na região. “Aconteceu a ampliação do Mercosul, a criação da Unasul e da Celac, que surgiram em contraposição ao domínio político dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA). Além disso foi criada a Alba, protagonizada por Venezuela e Cuba”.

Para comemorar a vitória dos movimentos sociais, mais de 20 cidades pelo continente terão atos e atividades de rua. Em São Paulo o protesto acontecerá na Praça do Patriarca, a partir das 15 horas, na quinta-feira (5).

4 de novembro de 2015 at 10:36 pm Deixe um comentário

Simpósio comemora os 70 anos da Federação Sindical Mundial

Por: INTERSINDICAL CENTRAL DA CLASSE TRABALHADORA

Foto: Nelson Ezídio

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Representantes da Intersindical Central da Classe Trabalhadora participam de encontro que reúne lideranças sindicais de diversos países

Os 70 anos da Federação Sindical Mundial (FSM) estão sendo comemorados com a realização do Simpósio Sindical Internacional, de 1º a 3 de outubro, em São Paulo, no Novotel Jaraguá.

O Simpósio discute soluções e estratégias de resistência à crise do capitalismo mundial, como a segurança dos empregos, a conjuntura e os desafios para a classe trabalhadora.

Ricardo Saraiva Big, presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e diretor da Intersindical, destaca que a grande mídia ignora, por exemplo, “a verdade imperialista que se esconde no deslocamento de milhares de pessoas e de refugiados”.

“Tudo o que está acontecendo é fruto de uma política imperialista que abriu as fronteiras ao capital, às mercadorias e ao lucro, mas não às pessoas”, afirma Big.

O evento reúne 116 representantes de 75 organizações sindicais e sociais de 37 países. “Viva a FSM e os seus 70 anos de luta!”, ressalta o diretor da Intersindical.

Federação Sindical Mundial

A FSM surgiu em outubro de 1945, em Paris, com a participação de 56 organizações nacionais de 55 países e 20 organizações internacionais, representando 67 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Sua sede está localizada em Atenas (Grécia).

Hoje a entidade conta com cerca de 80 milhões de membros em 120 países e se organiza na forma de Congresso Sindical Mundial, Conselho Presidencial e Secretariado, além de escritórios regionais (por continente) e as chamadas Uniões Internacionais Sindicais (UIS), que organizam os trabalhadores por categoria.

Leia também: Viviana Abud, da FSM: a questão de gênero é uma luta política que necessita de formação

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3 de outubro de 2015 at 6:33 pm Deixe um comentário

A grande maioria dos refugiados da África fica na África, afirma representante da ONU

Segundo Andrés Ramirez, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Brasil, o principal destino dos refugiados africanos não é a Europa, como muitos tendem a pensar.

Por Simone Freire,

De São Paulo (SP) Brasil de Fato

 

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Refugiados na África | Foto: ONU

Os noticiários cada vez mais recorrentes sobre as perigosas travessias migratórias de africanos para o continente europeu expõe um fato: a situação dos conflitos na África piorou e o número de refugiados é cada vez maior. No entanto, o principal destino destes refugiados não é a Europa, como pode parecer, mas continua sendo o próprio continente africano, que abriga mais de um terço destes refugiados. Essa é a realidade relatada pelo representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Brasil, Andrés Ramirez.

"Para entendermos o enorme peso dos refugiados nos países em desenvolvimento é importante sublinhar que, nas duas décadas passadas, 70% dos refugiados do mundo eram refugiados que ficavam nos países ‘em desenvolvimento’. Isso desmistifica aquela ideia errada de que a maioria dos refugiados vão para os países desenvolvidos. Isso é totalmente falso. Já no ano passado, 86% dos refugiados do mundo ficaram em países em desenvolvimento", aponta Ramirez.

Segundo o relatório Tendências Globais (Global Trends, em inglês), divulgado em junho deste ano pela Acnur, os deslocamentos atingiram um nível recorde e está se acelerando rapidamente. Ao final de 2014, foram 59,5 milhões de pessoas que tiveram que deixar forçadamente suas casas, comparado com os 51,2 milhões registrados no final de 2013 e os 37,5 milhões verificados há uma década. O crescimento desde 2013 (8,3 milhões de pessoas) é o maior já registrado em um único ano.

Em nível mundial, de acordo a Acnur, também houve mudança na distribuição regional de refugiados no último ano. Até 2013, as regiões que abrigavam a maior população de refugiados eram a Ásia e o Pacífico. Como resultado da crise na Síria, o Oriente Médio e o Norte da África se tornaram, em 2014, as regiões que mais recebem refugiados.

África

Dos 15 conflitos que iniciaram ou foram retomados nos últimos cinco anos, e que fizeram como que se intensificassem os deslocamentos forçados e colocassem boa parte da população em situação de refúgio, oito estão na África: Costa do Marfim, República Centro Africana, Líbia, Mali, Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Burundi.

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Dadaab, no Quênia | Foto: UNHCR/ONU

O maior campo de refugiados do mundo, Dadaab, situa-se no nordeste do Quênia, próximo à fronteira com a Somália. O território foi estabelecido em 1991 e abriga mais de 350 mil refugiados e solicitantes de asilo. O local abriga refugiados da Etiópia, Sudão, República Democrática do Congo, Eritreia, Sudão do Sul e Burundi, entre outros; e vive constantemente em conflito. Há denúncias de violações de direitos humanos, mas o Dadaab continua sendo, para muitos, a única alternativa para quem não pode viver em seu país de origem.

A maioria dos refugiados de Dadaab é da Somália, palco de conflitos internos de muitos anos protagonizado, principalmente, pelo grupo islâmico Al Shabaabe; e de um desastre natural, uma seca que assola o país. Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), aponta que 14% da população somali – mais de um milhão de pessoas – vive no exílio.

No final de 2014, a Acnur também mostrou que os somalis são a terceira nacionalidade com maior número de refugiados no mundo, atrás da Síria (3,88 milhões) e do Afeganistão (2,59 milhões). Além do campo de refugiados queniano, Etiópia e Iêmen são os países que mais recebem pessoas vindas da Somália.

Por conta dos conflitos armados, o Sudão tornou-se o quarto país com maior número de refugiados no mundo. Em um ano, o número de deslocados aumentou consideravelmente chegando a 670 mil, em 2014.

Os sudaneses também fizeram da Etiópia, em agosto passado, o país africano com a maior população de refugiados, abrigando cerca de 630 mil pessoas até o meio do ano passado. Os etíopes passaram o Quênia, que abrigava, na época, 575 mil refugiados e solicitantes de refúgio.

"Se ainda nos focamos nos países africanos e analisarmos o número de refugiados por um dólar do PIB [Produto Interno Bruto], ou seja, como os países em desenvolvimento recebem os refugiados levando em consideração a economia deles, o número um no ranking mundial é a Etiópia, que teria 440 refugiados por dólar", exemplifica Ramirez.

Na sequência, o quinto país com mais deslocamentos forçados é o Sudão do Sul, com 509 mil pessoas, e o sexto é a República Democrática do Congo, com 493 mil. Ambos são africanos e os destinos da maioria dos refugiados destes países também é a África.

"É uma minoria deles [africanos] que conseguem fugir para outros países. Esta minoria de pessoas refugiadas que conseguem fugir para outros países, alguns vão para a Europa e outros para os Estados Unidos e até para a América Latina", pontua Ramirez ao Brasil de Fato.

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Refugiados no Dadaab | Foto: UNHCR/J.Brouwer

Segundo o membro da Acnur, também é preciso muita atenção quando avaliamos a questão da imigração no mundo, uma vez que nem todo imigrante é um refugiado. "O refugiado é um tipo especial de imigrante, aquele que teve que migrar de um jeito forçado por causa de perseguição ou por ter sido vítima de um conflito generalizado. Tem muitos outros imigrantes que simplesmente saem para tentar ter uma vida melhor, por razões econômicas, por razões de desastres naturais, para ter uma vida melhor", explica.

Alternativas

Com a intensificação dos conflitos internos na Ásia e na África, a quantidade de pessoas que se deslocam desses continentes para a Europa ou América Latina começa a se tornar mais expressivo. Da África, as principais nacionalidades que veem na Europa uma alternativa é a Eritreia, Somália, Nigéria, Gâmbia e Sudão. A principal rota destes refugiados é o Mar Mediterrâneo em que, neste ano, 2.440 pessoas morreram ao tentar atravessá-lo, documentou a Acnur.

No relatório da entidade, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, criticou a abordagem da comunidade internacional para o fenômeno. "De um lado, há mais e mais impunidade para os conflitos que se iniciam, de outro, há uma absoluta inabilidade da comunidade internacional em trabalhar unida para encerrar as guerras e construir uma paz perseverante", declarou.

Na América Latina, o principal destino dos refugiados é o Brasil. De acordo com os dados mais recentes do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça, o país tem 7.700 refugiados de 81 nacionalidades. A maioria deles são da Síria, seguidos pela Colômbia, Angola e a República Democrática do Congo.

O número total de pedidos de refúgio aumentou mais de 930% entre 2010 e 2013. Até outubro de 2014, já foram contabilizadas outras 8.302 solicitações. A maioria dos solicitantes de refúgio vêm da África, Ásia (inclusive Oriente Médio) e América do Sul. O refúgio é um direito de estrangeiros garantido por uma convenção da ONU de 1951 e ratificada por lei no Brasil em 1997.

Presente no debate “O Brasil diante dos desafios de um novo ciclo de imigração”, realizado no Instituto Lula, no dia 26 de agosto, o secretário Nacional de Justiça e presidente do Conare, Beto Vasconcellos, apontou que o país tem a necessidade de continuar criando estruturas institucionais para amparar estes imigrantes, seja nas condições de refugiados ou não.

Embora o Brasil tenha avançado consideravelmente nas políticas humanitárias e atuado conjuntamente com outros países da América do Sul, que demostram um Estado voltado a uma política migratória progressista, pontua ele, "nós temos hoje, infelizmente, ainda uma legislação nascida e cultivada no período ditatorial. Nossa legislação de imigração, o Estatuto do Estrangeiro, é um marco legal, filho da Ditadura. É uma lei ultrapassada, uma lei hermética, burocrática e forjada, construída sob a doutrina da segurança nacional, onde e segundo a qual, a imigração é uma ameaça. É uma lei que não prevê direitos, mas restrições".

1 de setembro de 2015 at 9:08 pm Deixe um comentário

Morreu hoje (13) o escritor uruguaio Eduardo Galeano, aos 74 anos

Por Químicos Unificados

Sua obra ‘As Veias Abertas da América

Latina’ é um clássico da literatura política

O escritor uruguaio Eduardo Galeano (foto) morreu nesta segunda-feira (13) em Montevidéu (Uruguai), aos 74 anos, informou sua editora a este jornal. Na sexta-feira, ele havia sido internado por causa de um câncer de pulmão.

A obra mais conhecida de Galeano é, sem dúvida, As Veias Abertas da América Latina. Nela, ele analisa a história da América Latina como um todo, desde o período colonial até a contemporaneidade, argumentando contra a exploração econômica e política do povo latino-americano, primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos da América. O livro tornou-se um clássico entre os membros da esquerda latino-americana.

A publicação de Galeano era tão identificada como sendo uma obra revolucionária e de esquerda, que foi banida na Argentina, Chile, Brasil e no Uruguai, durante as ditaduras militares nesses países. Galeano chegou a ser preso em solo uruguaio, e depois obrigado a se exilar, primeiramente na Argentina, e depois, na Espanha.

43 anos

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As Veias Abertas… saiu quando Galeano tinha 31 anos. Naquela época, como admitiu depois o próprio escritor, ele não tinha formação suficiente para a tarefa à qual se dispôs.

Na 2ª Bienal do Livro em Brasília, em abril de 2014, Galeano disse que As Veias Abertas…“tentou ser uma obra de economia política, só que eu não tinha a formação necessária.Não me arrependo de tê-lo escrito, mas é uma etapa que, para mim, está superada”. O episódio demonstra que Galeano assumiu um tom mais ponderado para analisar o maniqueísmo político.

Remexer o “lixão da história”

Em seu livro mais recente, Espelhos, o autor tem o intuito de recontar episódios que a história oficial camuflou. Galeano se definia como um escritor que remexe no lixão da história mundial. Sua obra, na qual se destaca também Memória do Fogo (1986), foi traduzida para cerca de 20 idiomas.

Antes de se tornar um intelectual destacado da esquerda latino-americana, Galeano trabalhou como operário industrial, desenhista, pintor, mensageiro, datilógrafo e caixa de banco, entre outros ofícios.

Assista entrevista com Galeano

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ACESSE AQUI para assistir vídeo no Canal do Unificados no YouTube, no qual o escritor Eduardo Galeano (foto acima), em entrevista, diz que a necessária utopia “está no horizonte e serve para nos fazer caminhar”. Galeano também diz que “… Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham vontade de beleza e vontade de justiça…”

13 de abril de 2015 at 8:57 pm Deixe um comentário

Morre o escritor Eduardo Galeano

Cronista do seu tempo, sua visão foi refletida em sua narrativa de uma América Latina unida e da busca de um mundo onde não imperasse os valores do Capital

Por: Carta Maior

Eduardo Galeano

O escritor e jornalista uruguaio, autor de livros emblemáticos como “As veias abertas da América Latina”, “Memória do Fogo” e “O Livro dos Abraços”, faleceu nesta segunda-feira, 13 de abril, em Montevidéu, aos 74 anos. O juri que lhe entregou o doutorado honoris causa da Universidade de Havana, em 2001, o definiu como “um recuperador da memória real e coletiva sul-americana e um cronista do seu tempo”.
Eduardo Germán Hughes Galeano nasceu em Montevidéu, no dia 3 de setembro de 1940. Era filho de Eduardo Hughes Roosen e de Lucía Ester Galeano Muñoz, de quem tomou o sobrenome para assinar como escritor e jornalista. Quando era um adolescente, começou a publicar caricaturas no El Sol, um pasquim socialista do Uruguai, com o pseudônimo de Gius. Apesar de ser oriundo de uma família de classe alta, ele trabalhou como operário numa fábrica de inseticidas e pintor de cartazes, entre outros ofícios.
Seus primeiros passos no jornalismo foram no início dos Anos 60, como editor do semanário Marcha e do diário Época. Depois do golpe de Estado em seu país, no dia 27 de junho de 1973, foi preso, mas libertado posteriormente, e então se instalou na Argentina. Em Buenos Aires, foi diretor da revista cultural e política Crisis, fundada por Federico Vogelius (1919-1986): “aquele foi um grande exercício de fé na palavra humana, solidária e criadora (….) por acreditar na palavra, nessa palavra, Crisis escolheu o silêncio. Quando a ditadura militar a proibiu de dizer o que ela tinha que dizer, se negou a seguir falando”, disse anos depois sobre o fechamento da publicação, que aconteceu em agosto de 1976.
A ditadura argentina, presidida por Jorge Rafael Videla, colocou seu nome numa lista negra de condenados políticos, o que o obrigou a se exilar na Espanha. Ali, ele escreve a trilogia Memória do Fogo (Os Nascimentos, 1982; As Caras E As Máscaras, 1984 e O Século Do Vento, 1986) onde revisita a história do continente latino-americano.
Cronista do seu tempo, a visão de uma América Latina unida foi refletida em sua narrativa, através de obras como Los Días Siguientes (1963) (não tem título em português), Vagamundo (1973), O Livro dos Abraços (1989), Patas Arriba: La Escuela del Mundo al Revés (1998) (não tem título em português).
Em 1985, regressou a Montevidéu, quando Julio María Sanguinetti assumiu a presidência do país através de eleições democráticas. De volta ao seu país natal, juntou-se com Mario Benedetti, Hugo Alfaro e outros escritores e jornalistas para fundar o semanário Brecha. Posteriormente, criou sua própria editora: El Chanchito. Ademais, integrou a Comissão Nacional Pró Referendo (entre 1987 e 1989), constituída para derrubar a Lei de Anistia, promulgada em dezembro de 1986, para impedir o julgamento de crimes cometidos durante a ditadura militar em seu país (1973-1985).
A obra de Eduardo Galeano recebeu galardões em diversas partes do mundo, como o Prêmio Casa das Américas, em 1975 e 1978, o Prêmio do Ministério da Cultura do Uruguai em 1982, 1984 e 1986, o American Book Award de 1989, o Prêmio Stig Dagerman de 2010 e o Prêmio Alba das Letras, em 2013.
Quando recebeu o doutorado Honoris Causa da Universidade de Havana, em 2001, o escritor disse: “Eu amei esta ilha da única maneira que é, digna de fé, com suas luzes e sombras”, enquanto o juri definiu o escritor e jornalista com a certeza de se tratar de “um recuperador da memória real e coletiva sul-americana e um cronista do seu tempo”.
Em 2004, escreveu uma “Carta ao Senhor Futuro”, que sintetiza seus anseios. “Estamos ficando sem mundo. Os violentos chutam ele como se fosse uma bola. Jogam com ele, esses senhores da guerra, como se ele fosse uma granada de mão; e os mais vorazes o espremem como um limão. Nesse passo, temo que, mais cedo que tarde, o mundo poderia não ser mais que uma pedra morta girando no espaço, sem terra, sem água, sem ar e sem alma”, advertiu o escritor nessa carta. “Disso se trata, senhor Futuro. Eu lhe peço, nós lhe pedimos, que não se deixe desalojar. Para estarmos, para sermos, necessitamos que o senhor siga estando, que o senhor siga sendo, que nos ajude a defender sua casa, que é a casa do tempo”.

Créditos da foto: Mariela De Marchi Moyano / Flickr

13 de abril de 2015 at 8:46 pm Deixe um comentário

ASSISTA VÍDEO: Cubano visita Intersindical e fala sobre abertura Cuba x Estados Unidos

Intersindical

O cubano Ramon Cardona (ao microfone, na foto), secretário da Federação Sindical Mundial (FSM) , participou da abertura da reunião da direção nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, que ocorre de 27 a 29 de fevereiro no Centro de Formação e Lazer (Cefol) da Regional Campinas do Sindicato Químicos Unificados. Nos dias 24 e 25 ele também participou de atividades na Regional Campinas do Sindicato Químicos Unificados e no Sindicato dos Bancários de Santos, ambos filiados à Intersindical.

FSM é a mais antiga do mundo

A FSM foi fundada em Paris, em 1945. É a organização sindical internacional mais antiga e fundadora da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ela segue a linha do movimento classista e luta contra o capital e o imperialismo, por uma sociedade sem exploração do homem pelo homem. Tem representantes na Organização as Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),  Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

(FAO)  e Organização Internacional do Trabalho (OIT). Atualmente a FSM tem cerca de 80 milhões de membros, em 120 países.

Soberania, direitos, e bloqueio

dos Estados Unidos a Cuba

 Intersindical e Ramon Cardona

Dirigentes da Intersindical assistem palestra do cubano Ramon Cardona

“Precisamos defender a soberania e a economia de nossos países, com a integração dos trabalhadores contra os ataques capitalistas”, diz Cardona.

Sobre o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba, que durou 53 anos, Cardona fez questão de frisar que se trata de “genocídio”. E analisa: “A vontade de negociar dos norte-americanos é bem-vinda. Porém, o que se está fazendo é mudando a tática, mas mantendo a estratégia. A estratégia continua sendo destruir a soberania e a liberdade conquistada pelo povo cubano após a revolução socialista.”

“Os ianques (norte-americanos), para dizer que o bloqueio acabou, facilitaram a entrada de produtos cubanos, mas apenas aqueles que foram produzidos por setores privados. No entanto, os produtos produzidos pelo estado cubano estão proibidos, com objetivo de incentivar a privatização e destruir o Estado Socialista de dentro para fora.

A abertura das relações diplomáticas é outra tática para estar dentro de Cuba e tentar minar a soberania. Porém o povo cubano está preparado para enfrentar essa manipulação”, encerra Cardona.

Fonte: Sindicato dos Bancários de Santos

Entrevista de Cardona à TV Movimento

Após a palestra que realizou na Regional de Campinas do Sindicato Químicos Unificados, Ramon Cardona deu uma entrevista para a TV Movimento .

Ramon Cardona

SIGA ESTE ENDEREÇO – ou na imagem acima – para assistir a entrevista.

Dia Mundial de Combate à LER/DORT

O cubano Cardona também fez uma visita ao Espaço de Saúde e Meio Ambiente do Trabalhador, em Campinas, durante a realização de atividades pela passagem do 28 de Fevereiro – Dia Internacional de Combate à LER/DORT.

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Cardona, dirigente da Federação Sindical Mundial, na atividade pelo Dia Internacional de Luta Contra a LER/DORT, na Regional Campinas do Unificados

SIGA ESTE ENDEREÇO – ou na imagem acima – para ler sobre a atividade, sobre LER/DORT, como prevenir, se cuidar e denunciar condições de risco em seu local de trabalho.

Para Cardona, a defesa da saúde do trabalhador e a luta constante por condições seguras no local de trabalho deve ser prioridade e não se deve nunca abrir mão dela.

2 de março de 2015 at 10:08 am Deixe um comentário

Coordenador da Federação Sindical Mundial debate Cuba, em Santos

Postado: bancários de Santos / Intersindical Central da Classe Trabalhadora

BLOQUEIO AINDA EXISTE, RELAÇÕES CUBA X EUA E AMÉRICA LATINA.

Ramon-Cardona O cubano Ramon Cardona, secretário geral da Federação Sindical Mundial (FSM) na América Latina e Caribe, e integrante da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), vem a Santos no próximo dia 25/2 a convite do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora. Cardona participa de debate, aberto ao público, sobre a atual conjuntura política:

O encontro acontece às 19 horas, na sede do Sindicato, que fica na Avenida Washington Luis, 140, Encruzilhada, Santos. Durante a conversa o dirigente da FSM falará sobre a luta da classe trabalhadora e dos povos contra os planos impostos pelo grande capital, os desafios do movimento classista diante da crise internacional, a situação de Cuba em relação aos Estados Unidos e a luta contra o bloqueio imposto pelo imperialismo há mais de 50 anos.

1º de maio em Cuba

1 de maio em Cuba

O companheiro Cardona tem longa experiência junto à classe trabalhadora no combate aos ataques do capitalismo, que coloca o lucro acima da vida. Além disso, é fundamental ouvirmos seus relatos e análises sobre Cuba, porque boa parte da mídia dissemina informações distorcidas sobre a realidade no país”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários e secretário de Relações Internacionais da Intersindical, Ricardo Saraiva Big.

Após a atividade na Baixada Santista, Cardona segue para encontros com trabalhadores na região de Campinas (interior de São Paulo). “Nós da INTERSINDICAL, que temos compromisso para com um sindicalismo classista, e propomos o socialismo, como um modelo de sociedade diferente em favor dos trabalhadores e trabalhadoras e dos povos empobrecidos por este sistema capitalista, temos uma grande tarefa a realizar”, ressalta Big.

"TRABALHADORES DO MUNDO UNI-VOS" (Karl Marx)

16 de fevereiro de 2015 at 6:21 pm Deixe um comentário

Após três meses, pais de estudantes mortos protestam no México por justiça

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Reprodução

"Suas armas assassinaram meus irmãos. Queremos os 43 vivos", exigiram os familiares durante a marcha

Da Redação Brasil de Fato

O desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, estado de Guerrero, no México completou três meses no dia (26) e, para exigir respostas, uma manifestação foi realizada na cidade de Iguala. Cerca de mil pessoas participaram da mobilização, entre elas, os familiares dos desaparecidos.

"Suas armas assassinaram meus irmãos. Queremos os 43 vivos", exigiram os familiares durante a marcha. Também participaram os estudantes da Normal de Ayotzinapa e professores da Coordenadoria Estadual de Trabalhadores da Educação de Guerrero (Ceteg).

Novamente, os manifestantes pediram a saída do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e do governador de Guerrero, Rogelio Ortega, que assumiu o cargo no final de outubro depois que Ángel Aguirre renunciou pressionado pelos protestos.

O caso

Em 26 de setembro, em torno de cem estudantes da Escola Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, rumaram ao centro da cidade de Iguala. Na ocasião, María Ángeles Pineda, esposa do ex-prefeito de Iguala, José Luis Abarca, realizava um comício como parte de sua candidatura à Prefeitura.

Os estudantes apareceram no ato a fim de arrecadar fundos para uma manifestação por melhorias na educação, mas foram reprimidos pela polícia. O procurador-geral da República, Jesús Murillo Karam, declarou, em coletiva de imprensa, que houve ordem direta do ex-prefeito à polícia para reprimir os estudantes. 

Segundo as últimas informações divulgadas, mais de 400 tiros teriam sido disparados contra os estudantes. Seis morreram na hora. Um dos estudantes teve sua pele e olhos arrancados, ainda vivo. Vários conseguiram escapar, mas 43 desapareceram.

Nestes três meses, mas de 70 pessoas foram acusadas de envolvimento no caso. À medida que começaram as investigações, foram encontradas em torno de 40 valas com restos humanos. No entanto, peritos argentinos afirmam que nenhum dos restos pertence aos estudantes e o caso ainda continua em aberto.

*Com informações da Agência EFE.

3 de janeiro de 2015 at 6:57 pm Deixe um comentário

Por que Evo ganhou?

ESCRITO POR ATILIO BORON

Por: Correio da Cidadania

131014_evomoralesA vitória esmagadora de Evo Morales tem uma explicação muito simples: ganhou porque seu governo foi, sem dúvida alguma, o melhor da conturbada história da Bolívia.

“Melhor” significa, claro, que realizou a grande promessa, tantas vezes não cumprida, de toda democracia: garantir o bem estar material e espiritual das grandes maiorias nacionais, desta heterogênea massa plebeia oprimida, explorada e humilhada por séculos. Não é exagero dizer que Evo é o divisor de águas da história boliviana: havia uma Bolívia antes de seu governo e outra, distinta e melhor, a partir de seu legado ao Palácio Quemado.

Esta nova Bolívia, cristalizada no Estado Plurinacional, enterrou definitivamente a outra: colonial, racista, elitista, que nada nem ninguém poderá ressuscitar.

Sem dúvida que seu governo teve um acertado controle da política econômica, mas o que em nosso juízo é essencial para explicar sua extraordinária liderança foi o fato de que com Evo se desencadeia uma verdadeira revolução política e social, cujo signo mais destacado é a instauração, pela primeira vez na história boliviana, de um governo dos movimentos sociais. O MAS não é um partido no sentido estrito, mas uma grande coalizão de organizações populares de diversos tipos, que, ao longo desses anos, foi se ampliando até incorporar a sua hegemonia setores de classe media, que no passado haviam se oposto fervorosamente ao líder cocalero.

Por isso não surpreende que, no processo revolucionário boliviano (recordar que a revolução sempre é um processo, jamais um ato), tenham se posto de manifesto numerosas contradições que Álvaro Garcia Linera, o companheiro de fórmula de Evo, as interpretou como as tensões criativas próprias de toda revolução. Nenhuma está isenta de contradições, como tudo aquilo que tem vida. Mas o que distingue a gestão de Evo foi o fato de que foi resolvendo-as corretamente, fortalecendo o bloco popular e reafirmando seu predomínio no  âmbito do Estado. Um presidente que, quando se equivocou – por exemplo, no ‘gasolinazo’ de dezembro de 2010 – admitiu seu erro e, após escutar a voz das organizações populares, anulou o aumento dos combustíveis, decretado poucos dias antes.

Essa infrequente sensibilidade para ouvir a voz do povo e responder em consequência disso é o que explica que Evo tenha conseguido o que Lula e Dilma não conseguiram: transformar sua maioria eleitoral em hegemonia política, isto é, em capacidade para forjar um novo bloco histórico e construir alianças cada vez mais amplas, mas sempre sob a direção do povo organizado nos movimentos sociais.

Obviamente, o anterior não poderia ter se sustentado tão somente na habilidade política de Evo ou na fascinação de um relato que exaltasse a epopeia dos povos originários. Sem uma adequada ancoragem na vida material tudo se desvaneceria sem deixar rastros. Mas se combinou com muitos e significativos logros econômicos, que lhe aportaram as condições necessárias para a hegemonia política que tornou sua massacrante vitória de domingo possível.

O PIB passou de 9.525 bilhões de dólares, em 2005, para 30.381 bilhões, e o PIB per capita saltou de 1.010 a 2.757 dólares entre esses mesmos anos. A chave desse crescimento – e dessa distribuição! – sem precedentes na história boliviana se encontra na nacionalização dos hidrocarbonetos. Sim, no passado, a divisão da renda gasífera e petroleira deixava em mãos transnacionais 82% do produzido, enquanto o Estado captava apenas 18% restantes; com Evo, essa relação se inverteu e agora a parte do leão fica nas mãos do fisco.

Não surpreende, portanto, que um país que tinha déficits crônicas nas contas fiscais tenha terminado o ano de 2013 com 14.430 bilhões de dólares em reservas internacionais (contra os 1.714 bilhão que dispunha em 2005). Para calibrar o significado dessa cifra, basta dizer que as mesmas equivalem a 47% do PIB, de longe a porcentagem mais alta da América Latina. Em linha com todo o anterior, a extrema pobreza baixou de 39% em 2005 para 18% em 2013, e existe a meta de erradicá-la por completo para o ano de 2025.

Com o resultado eleitoral, Evo continuará no Palacio Quemado até 2020, momento em que seu projeto refundacional terá passado ao ponto de não retorno. Fica por ver se retém a maioria de dois terços no Congresso, o que faria possível aprovar uma reforma constitucional que lhe abriria a possibilidade de uma reeleição indefinida.

Diante disso, não faltaram que coloque o grito nas alturas, acusando o presidente boliviano de ditador, ou de pretender perpetuar-se no poder. Vozes hipócritas e falsamente democráticas, que jamais manifestaram essa preocupação pelos 16 anos de gestão de Helmut Kohl na Alemanha ou os 14 do lobista de transnacionais espanholas, Felipe González.

O que na Europa é uma virtude, prova inapelável de previsibilidade ou estabilidade política, no caso da Bolívia se converte em um vício intolerável, que desnuda a suposta essência despótica do projeto do MAS. Nada novo: há uma moral para os europeus e outra para os índios. Simples assim.

Atilio Boron é sociólogo argentino.

Traduzido por Gabriel Brito, do Correio da Cidadania.

15 de outubro de 2014 at 7:55 pm Deixe um comentário

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