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Especial: 120 anos de Antônio Gramsci

Ideologia e intelectuais na obra de Antônio Gramsci

Por Augusto C. Buonicore

Fundação Maurício Grabois

Ele concebe a ideologia como “uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, nas atividades econômicas e em todas as manifestações da vida intelectual e coletiva”. (1) Portanto, para Gramsci, a ideologia estaria presente em todas as atividades humanas, não se traduziria apenas no campo da produção de ideias.

Ideologia e intelectuais na obra de Antônio Gramsci

Parte 1
1. A ideologia em Gramsci
O que é ideologia para Gramsci?

Ele concebe a ideologia como “uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, nas atividades econômicas e em todas as manifestações da vida intelectual e coletiva”. (1) Portanto, para Gramsci, a ideologia estaria presente em todas as atividades humanas, não se traduziria apenas no campo da produção de ideias.
No entanto, para ele, somente as “ideologias orgânicas” vinculadas a uma das classes fundamentais da sociedade capitalista – burguesia e proletariado – deveriam ser consideradas. Em situações normais a ideologia dominante seria a da classe econômica e politicamente dominante. Gramsci estabelece então diversos níveis entre a concepção de mundo produzida pelos intelectuais orgânicos da classe dominante e as ideias – senso comum – das classes subalternas, informadas por aquela concepção geral de mundo. Esta diferenciação em níveis é engendrada pelas contradições objetivas inerentes à sociedade dividida em classes sociais antagônicas.
Portanto, a luta de classes é a fonte das constantes fissuras no campo hegemônico da ideologia burguesa. É responsável, em certo sentido, pela falta de homogeneidade entre o discurso de dominantes e dominados, apesar de este último, no fundamental, estar preso nos laços da ideologia burguesa que o informa. “A ideologia difundida nas camadas sociais dirigentes”, afirmou ele, “é evidentemente mais elaborada que os seus fragmentos encontrados na cultura popular (…) na cúpula, a concepção de mundo mais elaborada, a filosofia, ao nível mais baixo, o folclore. Há entre esses dois níveis extremos, o senso comum” (2).
A filosofia, enquanto nível superior da ideologia, é sua “chave mestra”, sua principal força coesiva. É ela que modela e dirige os demais níveis, em especial o senso comum. Dirige respeitando os limites estruturais de classe apresentados anteriormente. Mas, se a filosofia deseja cumprir a sua função deve, necessariamente, se manter ligada às classes subalternas, às massas populares. Sem isto perderia sua capacidade de direção política e ideológica. Marx já afirmava que as ideias só adquirem força material quando penetram nas massas.
O senso comum popular, por sua vez, revela-se um amálgama de diversas ideologias tradicionais e da ideologia da classe dominante. Afirma ele: “Cada camada social possui seu próprio senso comum (…) seu traço fundamental mais característico é o de constituir (mesmo em nível de cada cérebro) uma concepção fragmentária, incoerente, inconsequente, conforme a situação social e cultural da multidão” (3).
Em outra passagem escreve: “Na consciência do homem, abandonado à própria espontaneidade, não ainda criticamente consciente de si mesmo, vivem ao mesmo tempo influências ideológicas diferentes, elementos díspares, que se acumularam através das estratificações sociais e culturais diversas” (4).
Gramsci procura então compreender os meios pelos quais a ideologia das classes dominantes penetra e ajuda, em certo sentido, a coesionar as classes subalternas sob sua direção, impedindo assim a ruptura violenta do status quo de dominação, mantendo coeso o edifício social.
Toda sociedade constitui a sua própria “estrutura ideológica”, que é “destinada a manter, defender e desenvolver a frente teórica”. Esta estrutura, por sua vez, se compõe de diversos aparelhos, entre eles os principais são Igreja, Escola e Imprensa. Os aparelhos ideológicos são instrumentos de produção e de reprodução da ideologia, são organizações que de uma forma ou de outra “podem influir, direta ou indiretamente, sobre a opinião pública”, sobre o pensar e o fazer das classes sociais subalternas.

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2 de fevereiro de 2011 at 12:12 pm Deixe um comentário